Conceitos de: Afiliação, Aceitação, Reciprocidade, Interdependência e Rejeição
Neste tema foram propostas aos mestrandos três tarefas distintas: a leitura da bibliografia disponibilizada, a observação e o registo de atitudes de aceitação, reciprocidade, interdependência e rejeição, durante uma semana, num cenário escolar e/ou formativo e, por fim, a partilha e a discussão no fórum dos resultados a que se chegou. As tarefas relativas a este tema decorreram entre 14 de Março e 2 de Abril.
Recursos disponibilizados
Neto, F. (2002).PsicologiaSocial. Lisboa.UAB, pp.141-146
Costa, E.; Matos, P. (2007).Abordagem sistémica do Conflito. Lisboa.UAB, pp43-72
Del Prette, A.; Del Prette, Z. (2007). Psicologia das relações interpessoais (6ª ed.).Petrópolis; Editora Vozes, pp.212-220
Outros recursos (pesquisa pessoal)
http://www.unisinos.br/publicacoes_cientificas/images/stories/pdfs_educacao/vol12n1/042a047_art05_brancher.pdf
http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=928
http://www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/aps/v18n3/v18n3a07.pdf
http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0285.pdf
Os conceitos
Significado: Instinto gregário comum aos animais ditos sociais, como o Homem, que os leva a associar-se com os seus semelhantes, para satisfação de necessidades de, entre outras, comunicação, de apoio, de prestígio, de cooperação para alcançarem objectivos comuns. A afiliação é assim o factor responsável pela formação de grupos sociais - Processo de Afiliação
Exemplo: Um número determinado de indivíduos que se juntam para jogar, brincar, desenvolverem um projecto, como seja, uma empresa, um roubo, caçar ou pescar, ou simplesmente trocarem ideias
http://www.dicionarioinformal.com.br/definicao.php?palavra=afilia%E7%E3o&id=13741
Ação de rejeitar; ato pelo qual se aceita: aceitação da proposta. Aprovação, aplauso
http://www.dicio.com.br/aceitacao
 Interdependência.... Significado: É o simples fato de um ato ser dependente de outo, dentro de um processo. | |
Exemplo: Conjunto de ações interdependentes que se interagem é denominado sistema
http://www.dicionarioinformal.com.br/definicao.php?palavra=afilia%E7%E3o&id=13741
Reciprocidade ...
Estado ou qualidade do que é recíproco. / Correspondência mútua de palavras, atos etc.: reciprocidade de sentimentos, de serviços; tratado de reciprocidade entre Estados.
http://www.dicionarioinformal.com.br/definicao.php?palavra=afilia%E7%E3o&id=13741
Rejeição ...
Ato ou efeito de rejeitar, de não aprovar
http://www.dicionarioweb.com.br/rejei%C3%A7%C3%A3o.html
Ato ou efeito de rejeitar; não aceitação, recusa; repulsa; desaprovação
Observação de duas situações: rejeição (A) /aceitação (B)
(Contexto formativo: Educação de adultos)
A - Numa turma de Educação e Formação de adultos, uma professora que constitui par pedagógico comigo tem problemas graves do foro psicológico. A colega trabalha em média uma semana ou duas no início de cada período e a seguir vai para baixa, reaparecendo às vezes, também, uns dias em meados dos períodos. Durante o tempo em que trabalha, quando chega tem uma postura arrogante, põe em causa o trabalho de toda a gente colegas e formandos. O tom de voz da colega é estridente, demasiado irritante e provoca dores de cabeça a quem a ouve. Quando fala com alguém seja alunos, funcionários ou professores dá secas de meia hora em cima da pessoa que a ouve, completamente arrumada a essa pessoa que, seja quem for, se recuar ela avança ,se der um passo para o lado ele também o faz, sendo capaz de estar a falar ineterruptamente com essa pessoa durante meia hora ou 45 minutos seguidos.
Na escola, toda a gente foge da professora, evitando falar com ela e os formandos que nos dias em que ela está ao serviço, ou faltam às sessões ou trazem tampões que colocam nos ouvidos.
B - Numa das turmas EFA que leciono em comum com a colega a referida, há um formando que tem um problema que se desconhece exatamente qual é (porque ele não o refere nem aos professores ou colegas da turma nem à professora mediadora) mas que se traduz, por já ter tido, numa aula ou outra por variadas vezes, um ataque que se assemelha a epilepsia, mas que se reveste de outros contornos. Um dia, no final da sessão desta turma, os formandos desabafaram comigo que essa professora estava completamente impossível de se ouvir e que não sabiam o que fazer. Entretanto tocou para a saída e o formando em questão acompanhou-me no percurso da sala até à sala dos professores para me dizer que a professora não tinha culpa da sua situação, que deveria ser compreendida e ajudada .
Perguntei-lhe como é que ele achava que ele e os outros colegas a poderiam ajudar, respondeu que não sabia mas insistiu que a professora tinha que ser compreendida e ajudada e que as outras pessoas deveriam ser compreensivos relativamente à sua situação
Reflexão
Os seres humanos, desde os primórdios da sua existência, foram desenvolvendo ao longo da sua vida, a capacidade de se relacionarem uns com os outros, em dimensões mais ou menos restritas, conforme a sua inserção em núcleos individuais, familiares ou sociais. Ainda que, se atente mais na dimensão mais individual “o homem é ele próprio, um subsistema integrado em um sistema mais abrangente em contínua transformação” (Del Prette, 2007, p. 218). Estabelece-se assim, de acordo com este autor, uma interação com o próprio ambiente e neste, interagem, por sua vez, múltiplos seres humanos. Desta interação surge o conceito de interdependência que “é, também, uma condição natural da vida social e um atributo de valor que deveria orientar, juntamente com outros atributos, as interações entre pessoas e grupos” (Del Prette, pp.217-218).
Na harmonia da interdependência humana, nasce a aceitação do outro enquanto ser diferente, o que implica, segundo Del Prette, a persistência de uma postura face ao outro assente no “olhar e ouvir” para uma “maior garantia do exercício do direito de cada um ser como é, praticar a sua cultura e ter os seus valores, divulgando-os e defendendo-os” (Del Prette, p.219). Assente neste postulado, chega-se à reciprocidade, conceito associado ao de aceitação. Diríamos que reciprocidade e aceitação constituem os pilares da coexistência dos indivíduos, socialmente, que tanto mais conseguirão concretizar os seus deveres de cidadania e usufruir dos seus direitos neste âmbito, quanto mais sólidos forem esses dois pilares.
Sendo o ser humano um ser social, numa primeira fase da sua vida, é na família que desenvolvem a suas componentes afetiva, cognitiva e comportamental, sendo aqui que se formam os primeiros laços de vinculação e afiliação, pois a criança depende dos adultos que se movem à sua volta e, desde muito cedo, o ser humano, experimenta a necessidade de sentir a presença de outros seres humanos. O seu desenvolvimento emocional e social será determinantemente marcado pela sua vivência inicial no núcleo familiar, já que é neste plano que se começam a delinear os contornos do relacionamento com os outros e, consequentemente, os motivos de afiliação que irão acompanhar o indivíduo em todo o seu percurso vivencial. Como refere Ferreira (2007, p.2) “ Eu sou mãe a partir do momento em que exista um pai e um filho. “Eu sou professora porque existe também o aluno e a comunidade escolar. Eu sou o chefe porque existem outras pessoas que estão à minha volta, possibilitando que eu exerça a minha liderança”.
A rejeição manifesta-se em comportamentos e atitudes contrários aos que caracterizam o postulado da aceitação e entender-se-á como a atitude oposta a esta, constituindo padrões de interferência nas relações interpessoais e, consequentemente, nos processos da socialização do indivíduos, assumam eles o papel de sujeito ou de objeto da rejeição, sendo que as consequências de alguma desarmonia social interrelacional pesam de forma diferente para o indivíduo rejeitado do que para aquele que rejeita.
Consideramos muito importante e significativo ter refletido, no âmbito deste tema, sobre os conceitos que trabalhámos e sobre as teorias das relações interpessoais, pois sendo, profissionais da Educação - e constituindo a Escola palco significativo do acontecer relacional dos indivíduos durante uma parte significativa das suas vidas, do ponto de vista dos professores e dos alunos - afigura-se-nos fundamental compreender e conhecer os fundamentos teóricos subjacentes às relações interpessoais, de forma a podermos, efetivamente, contribuir para a construção da uma escola também como espaço de aprendizagem do outro e de respeito mútuo, condição essencial para uma sociedade melhor do ponto de vista dos princípios da cidadania e da democracia.
